21.9.09

Tristão e Isolda

Tristão e Isolda
(Lenda Medieval Celta de Amor)
(Versão escrita por Fernandel Abrantes baseado nos fragmentos de Béroul, Thomas - troveiro anglo-normando do sec XII - Gottfried von Strassburg e nos trabalhos do francês J. Bédier)
Coleção Obra Prima de Cada Autor
Editora Martin Claret 3ª Edição

Esta edição é muito fácil de ler em um único dia. A história começa na página 15 e vai até a página 135, mas com muitas páginas só de figuras outras tantas onde a figura ocupa mais de 50% da página e outras ainda em branco, por serem final de cada capítulo.

Nesta edição há alguns erros de impressão, como palavras juntas e etc, mas nada que comprometa a leitura.

Neste estilo, o narrador vai adiantando o que vai acontecer, tal qual fosse mesmo um bardo ou um trovador contando uma história.

Muitos termos precisam de um dicionário, por serem muito antigos ou pouco usuais, e tratar coisas e objetos que eram comuns àquela época.

O mundo de Tristão e Isolda é um mundo de magia, dragões, fadas, heróis e grandes sentimentos.

O que me intriga é o idioma em que a história foi concebida. Como sa passa na Cornualha, Irlanda, Bretanha, e há, inclusive, a presença do Rei Artur, imagino que tenha sido em inglês. Quando nasce Tristão, sua mãe dá este nome ao filho devido a tanta tristeza que cercou seu nascimento. Tristesa -> Tristão.

Como seria o nome original do herói, visto que tristesa em inglês não é nem parecido com a palavra em português? Só o que eu pude pesquisar foi que o nome em inglês é Tristan. Isto me faz pensar que esta parte do livro foi adulterada pelos portugueses quando a lenda chegou àquele país pela Península Ibérica, o que me faz lamentar muito. Não sou a favor de deturpações e nem de tradução de nomes. Nome é nome, não se traduz. Ainda mais uma história que inspirou tantas peças, óperas, esculturas e pinturas ao longo dos tempos. O que me anima é pensar que, como esta lenda celta passa-se pouco tempo após a queda do Império Romano, e com a difusão pela igreja Católica do idioma latim, esta passagem pode ter sido contada naquele idioma, que guarda relação de semelhança com o termo Tristan ou Tristão.

O drama Tristão e Isolda conta a história de amor impossível entre os dois, em um conto de aventuras, intrigas, morte e redenção. Os personagens são estilizados. A nobreza é exagerada, assim como o amor, a valentia, a paixão, o ódio. Mas isso tudo dá mais charme à leitura. É um mundo mágico, como já descrito acima. A sorte e o azar (também exagerados) são os personagens ocultos mais atuantes do enredo, e dão rumo aos eventos, fazendo dos outros personagens meros joguetes de seus caprichos. Muitas vezes esta sorte e este azar são atribuídos à providência divina.

Breve perfil de alguns dos personagens:

Rei Marc – Tio de Tristão, Rei da Cornualha, Senhor do Castelo Tintagel, coração nobre e cavalheiro. Tem amor verdadeiro por seu sobrinho e sua esposa, Isolda. Capaz de castigar com crueldade. Também capaz de perdoar. Seguidor se seus princípios, mas com a mente influenciável, manipulável, vulnerável.

Rei Rivalen – Pai de Tristão, desposa Brancaflor, irmã do Rei Marc. Valente, protetor.

Brancaflor – Mãe de Tristão, apaixonada, dependente, fraca.

Tristão – versátil, cavaleiro, arqueiro, caçador, guerreiro, harpista, navegador, artista, aventureiro, valente, gentil. Mostra-se contraditório: ama a verdade, mas utiliza-se da mentira quase o tempo todo. Altruísta a ponto de sacrificar seu conforto, seus bens e até sua vida em favor de quem ama. Fiel e traidor. Sua existência é marcada sobretudo pela boa sorte em manter-se vivo. Apesar da paixão anuviando seus pensamentos e atos, tornando-o algumas vezes descuidado, é o mais constante. Sabe o que quer, sabe o certo e o errado, e age conscientemente (a maioria das vezes). Dono de uma personalidade que atrai bons e fiéis amigos de coração nobre como o dele, e inimigos mortais senhores de corações cheios de inveja e ambição. Mestre das enganações, dos disfarces, das artimanhas, estratégias, astúcias e ardis, mas sincero de sentimento. Luta com honestidade, e se trai aqueles que ama, o faz porque foi vítima do amor que não pode controlar, seja ele efeito de feitiços ou não.

Rohald, o Defensor da Fé – Marechal do Rei Rivalen, honrado, desprendido, cuida de Tristão como seu filho fosse.

Gorvenal – escudeiro, ensina a Tristão todas as artes de que ele é dotado. Fiel, acompanha Tristão durante toda a sua jornada.

Isolda – filha do rei da Irlanda, sobrinha de Morholt, é o exemplo da inconstância e infantilidade. Irascível, vingativa, cruel, apaixonada. Ama e odeia. Vítima, como Tristão, de um amor impossível.

Sinas de Lidan – senescal do Rei Marc, amigo fiel de Tristão.

Morholt – gigante cavaleiro cuja irmã o Rei da Irlanda desposara. Carrega a fama de invencível na batalha. Lutador feroz. Aplica veneno em suas armas.

Brangiem – dama de companhia de Isolda. Extremamente fiel. Entrega-se com renúncia aos caprichos da ama. Nunca traiu, nunca se comportou mal. Foi descuidada uma vez e martirizou-se pela culpa a vida inteira. Severa para consigo mesma, indulgente para com o próximo.

Perinis – pagem de Isolda. Fiel à sua ama. Estafeta entre Isolda e Tristão.

Frocin, o anão corcunda – mago, feiticeiro, adivinho, cruel, invejoso, ambicioso. Instrumento da maldade e inveja dos barões inimigos de Tristão e manipuladores do Rei Marc.

Husdent – cão galgo de Tristão, companheiro, amável, amigo fiel.

Ogrin – clérigo eremita, nobre e honrado, pronto a ajudar aos necessitados, desde que estes ajam com nobreza e retidão.

Kaherdin – filho do Duque Hoël da Bretanha, irmão de Isolda das Mãos Alvas. Amigo e cunhado de Tristão. Valente, forte e companheiro.

Isolda das Mãos Alvas – esposa de Tristão. Amorosa, dedicada, compreensiva e vingativa.


Relação de alguns dos termos pouco usuais encontrados no livro (todas as definições retiradas de http://www.dicio.com.br/ em 24/09/2009):

Felonia – deslealdade, perfídia, traição.
Chuço – haste de pau amarrada com aguilhão (ponta de ferro amarrada a bastão) ou choupa (idem).
Ceva – Ação de cevar. Alimento que se dá aos animais para engordá-los.
Torreão – Torre larga, com ameias (cada um dos pequenos parapeitos denteados que guarnecem o alto das torres, fortificações ou castelos e que protegem os atiradores), que constitui o reduto defensivo de um castelo.
Senescal – Mordomo-mor, superintendente ou vedor das casas reais.
Carbúnculo – Mineralogia Rubi grande de bela água e de intenso brilho.
Girifalte – Ave de rapina da família dos falconídeos (gerifalte).
Loriga – Cota de malha que usavam os combatentes na Idade Média; saio.
Filtro – Beberagem que a crendice popular supõe poder despertar paixões.
Sufrágio – Adesão, aprovação: conquistou o sufrágio popular; Liturgia Ato de piedade ou orações pelos defuntos.
Triaga – Remédio antigo de composição complexa, que se supunha ser ótimo contra a mordedura das serpentes e outros animais peçonhentos (tariaga).
Torrão – Pedaço de terra endurecida; gleba, terreno; solo.
Saio – Espécie de casaco de guerra dos gauleses, posteriormente adotado pelos romanos e pelos cavaleiros medievais.
Camelão – Tecido de pêlo de cabra ou de lã impermeável.
Jogos de tavolado – jogos de mesa.
Ajaezado – enfeitado, adereçado.
Cendal – Tecido transparente e fino; véu para o rosto ou para todo o corpo.
Zibelina – Espécie de marta (Mamífero peludo e esguio, que se parece com a doninha) da Sibéria e do Japão, de pêlo muito fino.
Peliça – Peça de vestuário forrada ou guarnecida de peles finas e macias.
Lígio – Dizia-se, no regime feudal, do vassalo, ou o vassalo mais obrigado a servir a seu senhor do que um vassalo comum, tanto na paz como na guerra; Diz-se da pessoa, ou a pessoa inteiramente devotada a seu protetor.
Besante – Antiga moeda do Império Bizantino; Disco de ouro ou de prata.
Cardo – Nome comum a várias plantas com folhas e hastes espinhosas, da família das compostas; Variedade de alcachofra.
Gibão – Veste de homem usada durante os séc. XIII a XVII, que cobria o corpo do pescoço até um pouco abaixo da cintura.
Sinople – Esmalte de cor verde; Mineralogia Certa variedade de quartzo.
Opróbrio – Vergonha, ignomínia; desonra, vexame; Abjeção, estado abjeto.
Abside – Extremidade, em semicírculo, de uma basílica romana, e, por analogia, do coro de uma igreja.
Círio – Grande vela de cera usada nas igrejas.
Charneca – Terreno árido e inculto, onde só crescem plantas rasteiras e silvestres.
Mesnada – tropa mercenária.
Breve – Carta ou rescrito pontifício, que contém declaração ou resolução que não é de interesse geral da Igreja.
Paliçada – Estacada de varas ou troncos fincados no solo, ligados entre si, para servir de defesa contra ataques.
Palafrém – Na Idade Média, cavalo de parada dos reis e nobres.Cavalo elegante, de boa linhagem, próprio para montaria de senhoras.
Vilão – habitante de uma vila; na Idade Média, situava-se, na escala social, entre o homem livre o e escravo. Diferenciava-se do escravo por não pertencer a um senhor.
Eirado – Lugar patente e descoberto sobre a casa ou ao nível de um andar dela; terraço.

Resumo:

O Rei Marc de Cornwall (Cornuália em portugês) estava em guerra. Apaixonado por Brancaflor, irmã do Rei Marc, o Rei Rivalen de Loonois, atravessa o mar para oferecer ajuda.

O Rei Marc concede a mão de Brancaflor ao Rei Rivalen, o casamento ocorrendo em Tintagel, castelo do Rei da Cornualha.

O Duque Morgan estava atacando Loonois. Rivalen deixou Brancaflor, grávida de um filho, sob a aguarda do marechal Rohald em Loonois e partiu para a guerra. Rivalen morreu na guerra ao mesmo tempo que nasce o filho da rainha Brancaflor. Ela dá o nome de Tristão ao filho e morre de tristesa.

Rohald finge que Tristão é seu filho, para evitar que o Duque Morgan matasse o menino. Rohald entrega Tristão à guarda do escudeiro Gorvenal que lhe ensina todas as artes, inclusive as da guerra e os nobres sentimentos.

Tristão é raptado por mercadores da Noruega e levado de navio, mas devido a intensas tempestades, suspeitas de serem ira do mar pelo rapto, libertam Tristão, que vai parar justamente na costa da Cornualha.

Tristão encontra, na costa, caçadores do Rei Marc, mas não revela sua verdadeira identidade. Ensina-lhes um corte especial para levar a caça, e todos se admiram levando-o ao Rei em seu castelo, Tintagel.

Ao conhecer Tristão, o Rei Marc tomou de simpatia pelo menino, nenhum dos dois sabendo que se tratava de tio e sobrinho. A simpatia entre os dois só foi aumentando, para a inveja de quatro barões: Denoalen, Gondoine, Guenelon e Andret, sendo este último, sobrinho do Rei Marc.

Rohald informa ao Rei a verdadeira identidade do Tristão, mas este resolve dar Loonois para Rohald e ficar como vassalo de seu tio, tamanha a mútua admiração entre os dois.

Nisto, aparece em Tintagel o gigante Morholt da Irlanda, cobrando do Rei os tributos devidos, que seriam jovens e moças para servirem de vassalos ao Rei da Irlanda. Morholt, que nunca havia sido derrotado em batalha, desafiou a quem quer que fosse, vencê-lo em duelo, e, se vencido, Cornualha não deveria mais tributos a Irlanda. Todos os barões do Rei baixaram os olhos, apenas Tristão aceitou o desafio, lançando a luva ao gigante, e este aceitou, levantando a mesma.

Ao partirem para uma ilha onde se daria o embate, a nave do Morholt chegou primeiro e este a amarrou bem. Tristão, chegando em seguida deixou sua embarcação solta, ao sabor do mar. Ao ser indagado pelo gigante, Tristão informa que apenas um sairá da ilha vivo, não sendo necessário mais que uma embarcação.

De volta à costa da Cornualha, Tristão se dirige vitorioso, na nave do gigante, porém, seriamente ferido pelo veneno de Morholt. A espada do herói estava dentada, devido a um fragmento da mesma que se alojou no crânio do gigante.

Este foi levado de volta à Irlanda por seu séquito. O fragmento da espada do Tristão foi retirado do Morholt por sua sobrinha, Isolda, que o guardou e jurou ódio a Tristão.

De tão forte veneno que atingiu o herói, ninguém tinha o antídoto. Tristão já exalava odores putrefatos e só quem conseguia ficar perto dele era seu tio, Gorvenal e Dinas de Lidan, este último um fiel amigo que Tristão fez ao chegar na Cornualha.

Tristão pede que seja concedido a ele uma jangada sem remos ou vela, com suprimentos e sua lira para que fosse largado à própria sorte, talvez encontrando socorro em além mar, ou morrer tentando. Contrafeito, o rei o permite.

Já quase morrendo alhures em sua jangada, sua lira é ouvida por grupo de pescadores em terra distante: ele chegara à Irlanda. Estes pescadores o levam moribundo para os cuidados da filha do Rei, Isolda, a Loura, que não sabe a verdadeira identidade do enfermo.

Isolda conhece as ervas certas e o cura, e ele percebe estar na terra inimiga. Como Tristão ocultara sua identidade e suas feições ainda estavam deformadas pelo veneno, estava seguro, mas temendo ser descoberto, foge da Irlanda e volta à Cornualha.

A este evento, os quatro barões invejosos lançam outros contra Tristão, espalhando que o rei estaria enfeitiçado e que somente um bruxo conseguiria vencer o gigante, sair ao mar moribundo e voltar são. Temendo que a coroa seja passada a Tristão, os barões forçam o rei a escolher princesa para desposar e dar ao trono um herdeiro. Contrafeito, o rei acaba cedendo, mesmo estando realmente inclinado a passar o trono ao sobrinho Tristão, mas utilizou-se de um ardil: onde achar uma princesa tão distante e perfeita que demoraria eternidade para achar?

Dois pássaros adentram o recinto do Rei, interrompendo sua divagação, um deles deixa cair um fio de cabelo tão louro e tão fino que parece ouro. O Rei pega este cabelo e informa aos barões que se casará com a dona daquele fio de ouro. Os barões protestam, dizendo sa tratar de ardil do rei para não desposar.

Tristão reconhece o fio de cabelo como sendo da Isolda e informa que trará a dona dele para desposar o rei. Mesmo sabendo que o rei da Irlanda mandara destruir todos os navios vindos da Cornualha, Tristão parte com cem nobres cavaleiros para buscar Isolda. Chegando no porto da Irlanda disfarçados de mercadores estrangeiros, Tristão pensa em como por a termo seu intento.

Ouve um rugido ao longe e vê pessoas correndo na direção oposta. Ele pergunta a uma mulher do que se trata. Ela informa que de toda manhã, um dragão se planta à porta da cidade exigindo uma virgem que devora em minutos. Até agora ninguém vencera o dragão, e o Rei prometera a mão de sua filha, Isolda, a Loura, a quem exterminasse a besta.

Tristão se dirige à cavalo, em armas, para a entrada da cidade, pronto para enfrentar o dragão. Pega pelas tranças ruivas um cavaleiro que fugia e o indaga sobre o monstro. Após informações deste, Tristão investe contra a fera e após quase morrer, trespassa a garganta da mesma, atingindo o coração. Perdeu o cavalo e a loriga na batalha, mas arrancara a língua do animal e a pusera na perneira. O veneno do dragão o afeta e ele jaz inerte em um pântano perto. O ruivo que dera a informação ao herói era um covarde que, por amor a Isolda, sempre tentara matar a fera, mas fugia ante o primeiro berro da mesma.

Neste dia, o ruivo resolveu voltar e viu a fera morta. Julgando que quem quer que a tenha matado estivesse morto, arrancou a cabeça da mesma como prova, e rumou ao castelo para reclamar a mão de Isolda. Ao receber a n0tícia de que aquele covarde tinha matado a fera, Isolda foi investigar a cena com seus pagens. Descobriram Tristão em um pântano e o levaram ao castelo, onde foi tratado. Tristão informou que ele havia matado o dragão e a prova estava em sua perneira.

A rainha pediu que Tristão acusasse o falsário de haver mentido, apresentando sua prova e desafiando em poucos dias o oponente em um duelo para ver quem estava mentindo. Tristão aceita e é deixado aos cuidados de Isolda. Ela cuida de Tristão sem saber sua verdadeira identidade e, este, querendo ser-lhe gentil, sorri para ela. Neste sorriso, Isolda pensa que trata-se de ironia, talvez por estar esquecendo de algum detalhe que ela, uma dama, devia a seu cavaleiro. Nisto ela lembra-se que não cuidou das armas do nobre herói. Ao desembainhar a espada dele, percebe que está dentada, faltando-lhe um pedaço idêntico ao fragmento que ela removera da cabeça de seu tio Morholt. Ela pega o fragmento que havia guardado e o encaixa na espada, percebendo que aquela arma foi a que matara seu tio. Com a espada em riste, ela desmascara Tristão deitado em sua banheira e o ameaça de morte.

Ele, com o dom da palavra, convence Isolda a perdoá-lo, e que ele iria livrá-la de casar-se com o covarde, que livrou a terra do monstro que já levara tantas pessoas e levaria outras tantas, e que vencera o tio dela em luta justa e que, caso não fosse vitorioso, ele mesmo estaria morto. Solicitou ainda que convencesse a seu pai a aceitá-lo e a levá-la à Cornualha, donde ele viera, como um símbolo de paz entre as duas nações.

Ela se convence e no dia marcado, Tristão contrapõe o covarde ruivo, que confessa o logro e então Tristão recebe a bênção do Rei, só então revelendo sua identidade. Só que Tristão reclama a mão da princesa não para si, mas para seu tio, o Rei Marc. O Rei consente, mas Isolda fica envergonhada de ter sido rejeitada por Tristão, nutrindo antipatia por ele.

Partem logo para Cornualha, Tristão, Isolda, seu pagem Perinis e sua dama de companhia Brangien. Antes de partirem, porém, a rainha dá para Brangiem uma poção de amor eterno misturada em vinho, para que o Rei Marc e Isolda tomassem, e somente eles. Na viagem, porém, com muita sede, Tristão e Isolda procuram algo para beber. Uma das damas da Isolda acha a garrafa de vinho mágico que a rainha dera para Brangiem, então, Tristão bebe em uma taça a poção e da mesma taça, bebe Isolda. Tarde demais Brangiem vê o ocorrido e joga ao mar o restante da poção.

Tristão e Isolda se vêem apaixonados, e naquele mesmo instante, fazem amor. Consumidos pela culpa, mas dotados de grande senso de dever, Tristão cumpre o prometido e entrega a princesa ao Rei.

Brangiem, mortificada pela culpa, sacrifica sua virgindade na noite de núpcias do Rei, fazendo-se passar por Isolda, para que a mesma não seja condenada.

O amor eterno entre Tristão e Isolda levantou as suspeitas dos barões, que plantaram a semente da dúvida na cabeça do Rei. Manipulado pelos barões o Rei por várias vezes se atocaia para pegar os dois em flagrante, mas em todas as vezes, ele era percebido pelos amantes, que disfarçavam e passavam a imagem de inocentes, mas em todas as vezes, mortificavam-se os amantes pela culpa, e não resistiam ao amor um do outro.

Em uma última tocaia, um lacaio do Rei, o anão Frocin posto no aposento real para flagrar o adultério, espalha farinha entre a cama do rei e a de Tristão. Este, fingindo que dormia, observa a obra e, quando saem o Rei e Frocin dos aposentos, deixando dormindo o Tristão e a rainha, o herói salta para a cama da Isolda, sem tocar na farinha, porém, com o esforço, abre-se uma ferida ainda não curada na perna do amante, devida à caçada daquele dia, e o sangue goteja. Ao ouvir a aproximação do Rei e do lacaio, Tristão salta de novo para sua cama e volta a fingir que dormia, mas com a luz das velas, o Rei e o anão notam o sangue entre as duas camas e o Rei manda prender os amantes.

No dia seguinte, o Rei manda abrir uma cova na qual jogam muita madeira e ateiam fogo. Os dois seriam jogados na fogueira sem direito a julgamento. Tristão, utilizando-se de artimanhas consegue fugir, mas não Isolda. Ante a algazarra e as súplicas do povo, pedindo que ao menos houvesse um julgamento, surge uma comitiva com cem leprosos. Um deles disse ao rei que existia um castigo pior que as chamas: entregar a rainha aos leprosos, que se deitariam com ela. Ao ser obrigada a deitar-se com cem leprosos, ela se arrependeria da traição.

O Rei concentiu, e ela foi levada. Tristão interceptou a marcha dos leprosos, quando estes já se distanciavam e po-los para correr, resgatando Isolda.Viveram os dois por muito tempo na floresta, até que um dia o Rei os encontrou em uma cabana, dormindo um ao lado do outro, com a espada de Tristão entre os dois. O Rei iria matá-los ali, mas viu que os dois dormiam mas não se tocavam. E a espada entre os dois simbolizaa pureza. O Rei então se apiedou e pegou a espada de Tristão e trocou pela própria. Colocou suas luvas em um buraco nas folhagens da cabana para tapar o sol e trocou também o anel da rainha por um que ele carregava, e então saiu, deixando os dois dormirem.

Quando acordaram, perceberam que o rei estivera lá, pelos objetos deixados, ficaram com medo e fugiram. Depois pensaram que se o Rei quisesse lhes fazer mal, o teria feito enquanto dormiam. Tristão e Isolda resolveram fazer as pazes com o Rei através de um contrato enviado por um pároco local. O rei aceitou Isolda de volta mas decidiu que seria melhor que Tristão fosse para outras terras.

Tristão acaba casando-se com outra Isolda, a Isolda de Mãos Alvas, mas nunca chegara a consumar o casamento, inventando para a esposa uma desculpa de uma promessa que fizera, que durante um ano, não poderia tocar em sua mulher. Mas Tristão explicara para o cunhado a verdade: que seu coração pertencia a outra Isolda, e partiram os dois com seus respectivos escudeiros, para ver Isolda, a Loura.

Chegando a Cornualha, Tristão se separou do Gorvenal e deixou com este seu escudo e cavalo, seguindo com o cunhado para verem, escondidos, o cortejo passando com o Rei e a rainha. Um pouco distante dali, um dos cavaleiros da Cornualha avista Gorvenal e dispara em seu encalço, achando tratar-se do próprio Tristão. Gorvenal foge e mesmo o cavaleiro mandando ele parar em nome da rainha, Gorvenal não para.Este cavaleiro conta isso à rainha, que se decepciona, pois já recebera a notícia que Tristão havia se casado e que ele estaria lá para escarnecer dela, pois a desonrara quando não parou nem em seu nome. Isolda manda seu pagem achar Tristão e dar recado que ele fosse embora, pelo desaforo. Tristão explica ao pagem que foi engano e mesmo assim a rainha não crê. Tristão se disfarça de mendigo e vai ter com a rainha, aproxima-se dela a pretexto de pedir esmola. Ela o reconhece e mesmo assim o manda ir embora, ainda muito magoada.

Tristão volta com o cunhado, muito mortificado, e tarde demais, Isolda arrepende-se e convence-se do engano. De volta com o cunhado, Tristão envolve-se em uma batalha e é ferido com veneno. Ele explica ao cunhado que queria como último alento, rever sua rainha. O cunhado deveria ir buscar a rainha e quando retornasse, se fosse na companhia de Isolda, deveria hastear a vela branca. Caso contrário, a negra.Isolda de Mãos Alvas ouve tudo, e deseja vingar-se. Finge que está tudo bem e fica cuidando do marido, até a volta do irmão.

Tempos depois, quase sem forças, Tristão recebe a notícia de que seu cunhado estava voltando. Isolda de Mãos Alvas vê a vela branca, e encontra a oportunidade da vingança: conta a Tristão que viu a nau do irmão chegando, com uma imensa vela negra. Tristão, que estava mantendo-se vivo apenas para rever sua amada, não resiste e morre.

Quando Isolda a Loura o encontra morto, deita-se com ele e morre junto. Os dois corpos são devolvidos à Cornualha e o Rei Marc manda erguer dois túmulos separados, mas do túmulo de Tristão brotara um espinheiro florido que penetrava o túmulo de Isolda e, por mais que o cortassem, ele sempre renascia para dirigir-se ao túmulo da amada.


A lenda de Tristão e Isolda inspirou peças e filmes